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Este pequenino segue a ideia de que mais vale vacinar do que remediar :)
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Com a onda de frio que ocorreu nas últimas semanas alguns cães começaram a ter intensos ataques de tosse e por vezes a vomitar. A queixa dos donos quase invariavelmente não é da tosse, mas sim do vómito, ou têm a impressão de que o cão ficou com um osso de frango preso na garganta (apesar de eu ter dito para nunca dar ossos).
Nestes dias está a decorrer um surto de tosse do canil na zona de Coimbra. A tosse do Canil é uma traqueobronquite infecciosa, ou seja, uma inflamação da traqueia e dos brônquios causada por variados agentes infecciosos, nomeadamente diversos vírus como o vírus da parainfluenza, o reovirus e o adenovírus tipo 2 e a bactéria Bordetella bronchiseptica. Existem alguns estudos que indicam que esta bactéria pode causar doença nas pessoas imunodeprimidas e crianças, por isso não é aconselhável a essas pessoas estarem em contacto com cães que tenham sintomas de tosse do canil.
A tosse do canil é uma doença altamente contagiosa entre os cães e que como o nome indica ocorre muitas vezes em ambientes fechados onde haja uma grande concentração de canídeos, daí a origem do seu nome (Tosse do Canil). A doença encontra-se espalhada em quase todo o mundo e afecta muitos cães ao longo da sua vida.
A Tosse do Canil pode aparecer em qualquer época do ano, mas há uma maior predisposição nos meses frios devido à baixa temperatura.
Alguns factores ambientais podem afectar as vias respiratórias e por isso fragilizar os cães à Tosse do Canil, como os produtos de limpeza à base de formol, poeiras, alterações bruscas da temperatura e alergia a ácaros ou ao pólen.
O tempo de incubação da doença causada pela bactéria Bordetella bronchiseptica varia entre 3 a 4 dias após a exposição ao agente, e se não houver infecções secundárias que compliquem a doença ela dura cerca de 10 dias. No entanto quando a bactéria e o vírus da parainfluenza se encontram juntos a doença dura cerca de 14 a 20 dias. Contudo, após o animal ficar clinicamente curado ele vai eliminando a bactéria por 6 a 10 semanas.
O sintoma mais comum é uma tosse seca por vezes seguido de um vómito incompleto em que o animal parece engasgado. Uma descarga nasal aquosa também pode aparecer. Nos casos menos graves os cães continuam a comer e mantêm-se alertas e activos. Nas muitas situações há história de recentes viagens ou de terem estado em contacto com outros cães. Tenho um cliente cujos cães fugiram atrás de uma cadela que andava no cio e 3 dias depois estavam todos a vomitar (foi como ele me disse ao telefone quando solicitou um domicílio), e tinham todos Tosse do Canil. Aí está um caso em que há vantagem óbvia na castração dos animais!
Nos casos mais graves os sintomas podem progredir para letargia, febre, falta de apetite, pneumonia e em último caso, pode
+6conduzir à morte. A maioria dos casos graves ocorre em cachorros não vacinados ou animais debilitados por doenças ou idade avançada.
O diagnóstico usualmente baseia-se nos sintomas e na história de terem estado recentemente exposto a outros cães.
O tratamento normalmente consiste na administração de antibióticos para a prevenção de infecções secundárias e nos casos em que a tosse é muito intensa, na administração de antitússicos e de broncodilatadores
A melhor prevenção baseia-se na não exposição do seu cão a outros cães, principalmente se for um cachorro. Não sendo evitável a segunda melhor opção é ter o animal correctamente vacinado. Apesar de a vacina não proteger o animal totalmente de apanhar a doença, se ele a contrair fica muito menos afectado. É muito importante fazer o programa completo de vacinação dos cachorros a partir das 8 semanas de idade e de fazer o reforço anual ou mesmo semestral nos animais adultos nas situações de epidemia. Também por motivos de segurança deve vacinar o seu cão contra esta doença sempre que vá para um canil ou se vai estar em contacto com outros animais, no mínimo 7 dias antes. Mas muito importante também é dar uma boa alimentação ao seu animal, bem como mantê-lo desparasitado porque só assim o seu sistema imunitário estará preparado para enfrentar as doenças. Não há nenhum benefício em vacinar um animal debilitado porque o organismo será incapaz de produzir os anticorpos contra as doenças que a vacina tinha por função induzir.
Além disso convêm não sujeitar o cão a variações bruscas de temperatura no inverno e em determinadas raças não expô-las a temperaturas muito baixas. Igualmente não banhar o cão com frequência no inverno porque para além de lhe retirar a camada de gordura protectora, pode provocar um arrefecimento brusco de temperatura no seu corpo, por isso mesmo nos poucos banhos invernais, convêm ser muito bem seco e, se necessário deixá-lo envolto numa manta.
É caso para dizer que a Tosse do Canil não mata mas mói e mais vale vacinar do que remediar.
Salvador St.Aubyn Mascarenhas
Médico Veterinário
www.vetcondeixa.pt
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