Aurora Baptista não tem qualquer ligação com o jardim do Campo Grande, "excepto o facto de passar aqui todos os dias de carro, a poluir a área". No entanto, nesta manhã de sábado, a consultora de 46 anos está junto à piscina municipal do Campo Grande. São 09.00 da manhã e, como os seus colegas da multinacional de consultoria Deloitte, que voluntariamente vieram arranjar uma parte deste jardim lisboeta, Aurora calça as luvas de jardinagem e agarra numa enxada.
Num só dia, cerca de cem consultores limpam uma área de quase quatro mil metros quadrados, nela plantam árvores e herbáceos, instalam um sistema de rega automática e pintam os bancos que a rodeiam.
O princípio da iniciativa "Mãos à terra", explica ao DN Lígia Galvão, responsável pelo desenvolvimento pessoal dos colaboradores da Deloitte, " é cultivar a responsabilidade social da empresa", contribuindo assim para a sua imagem, "e fomentar o espírito de equipa".
O trabalho avança e, apesar do suor que começa a correr pela testa destes jardineiros por um dia, reina a boa disposição. Nem música falta. Enquanto coordena o trabalho dos colegas e dos funcionários da Câmara Municipal de Lisboa (CML) que os assistem, Lígia Galvão refere que "o valor desta acção é sobretudo simbólico". "Serve para mostrar que o espaço público é da responsabilidade de todos nós. Realizá-la no jardim do Campo Grande, que é tão conhecido, permite chamar mais atenção", acrescenta.
Por mais eficaz que seja esta sensibilização, o jardim do Campo Grande carece de uma intervenção bem mais ampla. "O lago, por exemplo, não é limpo desde 1999", conta Florindo Santos, encarregue da manutenção do espaço.
António Prôa, responsável pelos Espaços Verdes da CML, quis marcar presença para "dar o sinal de que é possível e desejável que as entidades privadas se envolvam na manutenção do espaço público". Quanto à reabilitação da totalidade do jardim, o vereador disse ao DN que "a intervenção está planeada e será realizada quando houver disponibilidade financeira". O reforço da iluminação e a requalificação dos caminhos, dos lagos e do campo de ténis deverão custar cerca de 800 mil euros. António Prôa salientou, porém, que "enquanto não se concluir a acção que a câmara pôs em tribunal para pôr fim à actual concessão do lago e outros equipamentos, a obra não será totalmente eficaz".
/Fonte: Diário de Notícias