No dia em que a cocker Meg morreu, o namorado da assistente social Josiane Targa, 43 anos, demorou três horas para ter coragem de contar o ocorrido. Ele foi informado pela veterinária, que preferiu não ligar diretamente para Josiane.
“Foi um grande desespero, como se tivessem tirado um pedaço de mim”, lembra a assistente social.
Ela chorou oito meses, todos os dias, e teve dificuldade para voltar à rotina, inclusive para fazer refeições e tomar banho.
Meg sempre estava presente nessas horas e foi complicado fazer tudo longe do olhar da cachorrinha.
Pode até parecer estranho para quem não tem animais de estimação, mas o que Josiane sentiu é hoje compreendido pela psicologia.
“Os psicólogos reconheceram que o luto experimentado pelos tutores de animais após a morte é o mesmo experimentado após a morte de uma pessoa. A morte de um animal de estimação significa a perda da fonte de um amor incondicional”, diz Luciana Farah, do portal Mania de Cão.
A história
Meg chegou recém-nascida na casa de Josiane. No início, tomava leite no conta-gotas. Logo mostrou sua personalidade: brincalhona, arteira, brava e também muito carinhosa.
“Ela ficava emburrada quando levava bronca. Era geniosa. Mas muito amorosa. Dentro de casa, era a minha sombra”, lembra a tutora.
A cachorra morreu há um ano, de câncer, aos 12 anos e meio de idade. Estava internada numa clínica veterinária, onde Josiane a viu pela última vez.
“Dei o último beijo, toquei em sua barriguinha cor de rosa, no seu lindo pelo caramelo…”, lembra.
Antes disso, no período da doença, a assistente social sentiu que precisava fazer alguma coisa por sua companheira. Decidiu tatuar o nome de Meg no pé, ao lado de dois corações.
E mostrou a homenagem à cocker, em quem via olhos compreensivos.
As duas eram tão unidas, que a Josiane ligava para a cachorra quando precisava ficar longe. Conta que Meg não comia quando ela viajava e, por telefone, ouvia os conselhos para se alimentar direito. E obedecia.
Companheiros
Hoje Josiane tem dois poodles, não chora mais todos os dias e faz planos de visitar a sepultura de Meg – uma pequena ilha no meio de um lago localizado num pesqueiro. O local foi cedido por um amigo e tem um detalhe que faz a assistente social se comover: uma estátua de Cristo.
Ela está recuperada, mas não esquece a amiga fiel.
“Acho a tatuagem no meu pé linda, nunca vou me arrepender. A Meg será eterna no meu coração, até hoje lembro do cheirinho, do latido…”
Cemitério tem dois mil pets sepultados
Quando decidiu criar um cemitério de cachorros e gatos, o ex-ourives Clóvis Bettus, de Botucatu, ouviu muitas exclamações de espanto. “Você é louco”, diziam.
Mas ele foi em frente, motivado por uma sobrinha que morava na Inglaterra e dizia que na Europa esse tipo de iniciativa é normal.
Deu certo. Inaugurado há nove anos, o cemitério já fez mais de dois mil sepultamentos. Tem cachorro, gato, tartaruga e até coelho.
Os animais são enterrados com direito a placa, fotos e em alguns casos até velório, dependendo da vontade do proprietário.
“Quem mais sofre são as pessoas de mais idade”, diz Clóvis. Na opinião dele, isso aconteceu porque, para quem vive sozinho, longe dos filhos, os animais de estimação viram as principais companhias.
Acontece com ele também. Separado e pai de filhos adultos, Clóvis vive com duas cachorras. Uma delas, da raça rottweiler, é chamada de recepcionista do cemitério.
“Ela é sorridente, um amor de pessoa”, descreve, bem-humorado. Clóvis começou a pensar no cemitério quando perdeu uma cocker de 16 anos. “Queria enterrá-la no meu túmulo, mas não deixaram, tiraram o sarro”, lembra. A partir daí, iniciou o projeto.
Os sepultamentos, em área de cinco mil metros quadrados, na zona rural de Botucatu, custam de R$ 125 a R$ 175.
Céu virtual reúne homenagens
Criadora de portal especializado Mania de Cão, Luciana Farah abriu espaço para tutores de animais que vivem a fase do luto e querem se expressar. É o Céu dos Pets, disponível no endereço eletrônico para homenagens a bichinhos mortos.
“A sociedade em geral não dá a essas pessoas a permissão para demonstrar a sua dor abertamente”, diz Luciana. “Os proprietários frequentemente se sentem isolados e sozinhos. Felizmente mais e mais recursos ficam disponíveis para ajudar essas pessoas a perceber que elas não estão sozinhas e que o que elas sentem é normal”.
No site, que faz parte do portal Mania de Cão, o tutor pode escrever um texto e postar uma foto, que ficam numa estrelinha do céu virtual.
Ao passar o mouse, o nome do pet aparece e, ao clicar, é possível entrar na pasta da homenagem.
A ideia deu certo. Já são mais de mil animais cadastrados, entre cães, gatos, pássaros, peixes e até hamsters. O serviço é gratuito e, por causa da grande quantidade de cadastros e acessos, logo ganhará um novo layout.
Acesse
Portal: www.maniadecao.com.br (endereço também do Céu dos Pets)